Capa e verso de "Cores sob nossas peles", de Noé Filho
A fenomenologia nos diz que a vida do outro só o outro pode experienciar. Daí a alteridade freireana: o exercício de compreensão, de buscar se irmanar com as experiências do outro. Essa chave pode ajudar à leitura de Cores sob nossas peles (2019), de Noé Filho.
Com uma simplicidade admirável, o autor chama essa forma fraterna de nos aproximarmos das experiências das outras de "empatia", no conto "Empatia é poder", por exemplo mas não necessariamente. Desde o início, ele faz quem passou se identificar, e quem não ele convida a compreender o lugar da outra pessoa.
O início com poema de Mário Faustino marca a grandiosidade a que se pretende a obra. Mário Faustino configura-se uma por uma grandiosidade poética e ser-no-mundo cujo valor veio a ser reconhecido tempos depois. O que aprendeu alemão com professor de inglês; que escreveu também no Pará; que anteviu a própria morte em voo estratosférico. Uma figura marcante.
A forma prosopopo(é)t(ica) da escrita de Noé conduz a pessoa leitora pelos fios de narrativas singelas, fortes quando sensíveis. Ao mesmo tempo, traz grandes máximas, axiomas sobre o ser. Num dos contos, ele traz uma passagem de grande beleza, inspiradora mesmo: "Percebi que esse é o maior objetivo. Quando o artista sente. Quando alguém se emociona". A frase materializa a maior de minhas inspirações ao produzir arte e cultura e, creio, de muitas de nós que produzimos cultura.
Cores sob nossas peles também me permitiu lembrar do maravilhoso e mais recente "Eu Ainda Te Amo" (Gabriel Martins, Editora Triquetra), pela importante representatividade de minorias LGBTQIA+ na literatura nacional e, podemos dizer, global.
O livro é um mani(a)(fe)s (to) de acolhimento a cada LGBTQIA+ que se sentiu em desamparo, em amores realizados ou não, em aceitação. Enfim, para cada LGBTQIA+ que tem orgulho de ser e de existir. Parabéns!
Como adquirir: pelo direct do Instagram @noerhfilho, lembrando que o preço é social, você paga o quanto puder.
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