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sexta-feira, 23 de julho de 2021

Era uma vez um falso francês

 

Capa de O Falso Francês, de Ítalo Damasceno


Quem é o autor? Onde cabe o leitor? Podemos ir pra onde for? Pelo menos duas dessas três perguntas povoaram minha leitura de O Falso Francês (PI/Brasil/Mundo, 2020), do escritor piauiense Ítalo Damasceno. 

O livro narra a história de João Manuel, um quase-ninguém-josé morador de São Félix do Alto, em 1849. Dá na telha dele, certo dia, de escrever para folhetins, ou melhor, de traduzir folhetins do francês para o português. João tem o entendimento de que não iriam publicar uma trama assinada por ele, então passa a ser o legítimo tradutor alto-morro-felicense de Patrice du Jardin, escritor francês. A obra? L'Embarquement pour Cythère, a ser publicada no A Brisa da Tarde, periódico do velho e sagaz seu Tista.

A escrita envolvente, fluida e cativante (de João e de Ítalo, ambos de penas profícuas), fazem com que o autor seja um sucesso na cidade, atraindo a atenção de uma moça, Edith das Almas, que logo vai atrás do patrão de Manuel  para saber quem é Campos Belos, pseudônimo do "tradutor" de Patrice du Jardin.

Se foi spoiler, não sei, mas paro por aqui com a descrição da obra, e entro na resenha. 

Ítalo esteve em uma live no Instagram do coletivo de mídia contra-hegemônica Ocorre Diário, em que também falou de sua trajetória, do sucesso de O Falso Francês (1° lugar na lista de ficção histórica, ação e aventura na Amazon em 2020). Também pudera: o conto conduz em linguagem simples e direta a história do Falso Francês João Manuel. 

Tive a grata satisfação de ser (a)presenteado à obra há pouco mais de um mês, através do conterrâneo de Ítalo (e meu amigo de longa data), Wilton Lopes (gratidão 🙏🏿). 

Respondo à primeira pergunta sobre de quem é a autoria lembrando de um filme que vi numa noite perdida de insônia.

No filme "Incógnito" (1997) temos um falsário requintado que reproduz fielmente obras de arte consagradas, e as revende por altos preços. O protagonista de O Falso Francês, João Manuel, se aproxima disso de uma forma bem diferente: com a esperteza forjada no aperreio da rotina da classe trabalhadora, ele tem respostas e cocriações de histórias tão logo é interpelado sobre elas. Faz os percursos que nos são tão comuns enquanto povo latinoamericano, de encontrar saídas diante das problemáticas cotidianas, de ressignificação de correrias para abrigarem nossos sonhos e vivências.

Já no livro Budapeste (2003), de Chico Buarque, o "escritor-fantasma" José Costa vira Zsózé Kósta graças a uma viagem à Hungria, enquanto escreve um livro autobiográfico de um tal Kaspar Krabbe, que o atormenta. João Manuel também tem seus fantasmas.

A série francesa Lupin (2020-), da Netflix, retrata um personagem dito fora da ordem que sempre escapa das armadilhas montadas por seus inimigos. Assim também João Manuel vai se constituindo com as suas histórias inventadas para envolver as pessoas a publicar a tradução que ele transcria.

Caberia que o leitor interviesse na história? Sim. Do livro e do conto. O Falso Francês traz elementos que poderiam muito bem ser adaptados como uma peça de teatro (pessoas atrizes, roteiristas e diretoras de teatro, corram aqui e confiram essa obra, para adaptá-la!). Podemos ir pra onde for? Sim, dessa vez graças ao Falso Francês. Boa leitura!

Pra adquirir:  chama o autor no probleminha do Instagram @biitalo 😉.

E tem a acessível versão em audiobook pela @atocadoslivros.

Sem contar o e-book

Inclusive ele também lançou O Segredo de Amarilis Antúrio recentemente. Mas isso é outra história. 



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