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terça-feira, 24 de junho de 2008

Raízes e Tradições

Foto: Professora Caroline

Cena da Dança do Boi, em Piripiri: é preciso conservar as tradições

Confesso que não gosto muito das quadrilhas em festas juninas. Exatamente por isso, resolvi assistir, com todo o rigor crítico que a minha ignorância artística permite, às danças da Quadrilha Junina do Colégio Baurélio Mangabeira de Piripiri, ocorrida em 13 de junho de 2008.

Muito me chamou a atenção a Dança do Boi, cuja coreografia é elaborada pelo professor de dança Wagner Cardoso, e ensaiada pela professora e cantora Francisca Paiva, mais conhecida como "Tia Paiva". Traços Esparsos conversou com ela a respeito desta dança e sobre as festas juninas como um todo:

Traços Esparsos: Como a senhora vê a aceitação do público em relação às festas juninas?

Francisca Paiva: As festas juninas são bem aceitas em Piripiri. Tem sempre um bom público, especialmente a galera jovem, pois os conjuntos que animam as festas geralmente tocam o que agrada à turma, músicas tipo "Beber, Cair e Levantar". Entretanto, não existe preocupação com a beleza e a preservação do folclore, das músicas e das danças nordestinas. Veja a mentalidade: [os jovens] acham [as músicas folclóricas] antigas.

TE: Em uma dança como a que a senhora ensaiou (o Boi), marcada pela tradição, como fazer para introduzir algum elemento novo e de qualidade?

FP: Eu sou uma apaixonada por arte - por todas elas - e pelo folclore nordestino. Todos os anos, faço o possível para acompanhar o "Bumba-Meu-Boi" e me responsabilizar por ele. Pesquiso as músicas e faço um "pout-pourri" [mistura] dos vários ritmos e culturas do Boi do Brasil, e daí apresentamos ao público. Acho que festa junina tem que ter Boi, porque é o símbolo do folclore.

Acho que o elemento novo que deve ser introduzido é o tema: músicas com um bom recado. No Piauí, precisamos de CD´s das coisas, das tradições do Piauí, dos Bois; se existe algo assim, não conheço.

TE: A última música da apresentação, "Primatas", aborda, entre outros, um tema muito debatido atualmente: o desmatamento da Amazônia. Foi algo intencional ou a senhora escolheu essa música por causa da melodia? A senhora acredita ser possível - e mesmo válido - utilizar as manifestações artísticas como instrumento de conscientização política?

FP: Quando vou escolher uma música, escolho um ritmo bem dançante e que seja bom para a coreografia. No caso da música "Primatas", dos bois de Parintins, achei maravilhosa a letra, a melodia, os efeitos, tudo. A música fala da evolução, da criação, dos primatas, do homem primitivo, da descoberta do fogo, da flecha, dos rituais, das guerrras, das danças, das tribos.

Com certeza, acredito que as manifestações artísticas podem ser um "instrumento de conscientização política". Cabe, a quem estiver orientando [essas manifestações], fazer uma releitura do que vai ser mostrado.

Por exemplo: a história do Boi. Conta a lenda que a escrava Catirina, casada com o escravo Pai Francisco, estava grávida, e desejou comer a língua do boi do patrão. Pai Francisco matou o boi, e o patrão descobriu; por isso, o escravo foi preso. O animal ressuscitou depois das orações de um pajé e de rezadeiras. O Boi é festejado para lembrar esse milagre.

Isso faz a gente refletir sobre a fome no Brasil, a pobreza, a exploração dos pobres, e sobre como os pobres devem se organizar para conseguir seus direitos. Conhecer o valor que cada um tem nas organizações da sociedade.

TE: A senhora acha necessário haver algum tipo de mudança na forma como são apresentadas as danças juninas, ou a tradição ainda é capaz de atrair o público?

FP: O povo que não conserva suas tradições culturais é povo sem memória, sem história. Pode-se caprichar na indumentária, na alegoria temática, mas sem sair da tradição das danças: dança do coco, xaxado, quadrilhas, cavalo Piancó, e outras. Tudo que é bem feito o povo gosta. O povo gosta das festas juninas. Cabe a quem está organizando caprichar.

Destaco, aqui em Piripiri, o "Portal do Forró" [evento realizado nos dias 5, 6, 7 e 8 de junho deste ano]: todas as danças merecem parabéns. Todas folclóricas, as músicas no clima de São João do Nordeste. Um luxo nas indumentárias. Às vezes, algumas pessoas acham que as roupas das quadrilhas devem ser todas "esmolambadas". Mas o povo da roça, comumente associado a essas danças, gosta é de linho de xadrez. Nunca de andar remendado.

TE: O que a senhora acha da inserção de ritmos como o calipso, a salsa - ou outros - que, de certo modo, fogem aos estilos comumente apresentados nas festas juninas?

FP: Eu sempre reflito que, se for em um festival de danças, tudo pode, salsa, tango, valsa, samba, e outros. Se a Banda Calypso entrar no clima de São João, com as mazurcas [dança polaca], forrós como "Olha pro céu, meu amor" é bem-vinda! Não gosto é dos forrós do tipo das bandas da moda. Acho estranho e esquisito. Dou nota dez, por exemplo, para o "Mastruz com Leite", que regravou uma seqüência maravilhosa das músicas juninas.

3 comentários:

Lígia disse...

"Não gosto é dos forrós do tipo das bandas da moda. Acho estranho e esquisito."

idem.


Aee, blog tá ficando sério... =D
mas me diz uma coisa, tu transcreveu tudo isso aí? Oo

Jorge André disse...

umrum, lígia. eu acho que ficou muito grande, mas como já tava com um tempão que era preu ter postado, resolvi botar tudo pra fora de uma vez.

rum!blog sério? hab-la sér-io! =P

Lara disse...

"Não gosto é dos forrós do tipo das bandas da moda. Acho estranho e esquisito."

idem. [2]

Pra mim festa junina com animação de "Banda Bali" e "Forró alguma-coisa" não é festa junina. Por isso fujo desses "arraiá" que têm aos montes por aí. *aquela que morou dois anos na terra do "maior são joão do mundo" e nunca pisou na festa tradicional de lá*

Se tivesse mais tempo e menos preguiça, dava uma olhada nos folguedos...